Mistura dos lagos (espécies)

Tendo em vista as diversas dúvidas de membros novatos no hobby, ou que tenham sido mal influenciados por outros criadores ou lojistas, resolvi criar este artigo, onde irei colocar de forma rápida, clara e objetiva, ALGUNS dos motivos pelos quais não devemos misturar espécies de lagos diferentes (Malawi, Tanganyika e Victória) em nossos aquários.

Parâmetros:Alguns aquaristas, por pura ignorância ou por apenas desconhecerem o fato, acreditam que os parâmetros das águas dos grandes lagos africanos são os mesmos, mas não são. vejamos:

Lago Malawi:
pH: de 7,5 a 8,5;
dH: de 4 a 6; 
kH: de 6 a 8;
Temperatura: 23 a 28° C.

Lago Tanganyika:
pH: de 8,5 a 9,2;
dH: de 11 a 17;
kH: de 16 a 19;
Temperatura: 23 a 27° C

Lago Victória:
pH:de 7,5 a 8,6;
gH:de 2 a 8;
kH:Não encontrei referências
Temperatura: de 23 a 25° C

Como podemos observar, os parâmetros da água não são iguais, e mesmo que pareçam próximos, não devem ser assim considerados, uma vez que buscamos as melhores condições para nossos peixes, e devemos lhes proporcionar as condições mais próximas possíveis de seu habitat natural. Os parâmetros da água podem propiciar o aparecimento de doenças, prejudicar o crescimento dos peixes, impedir a reprodução, enfim, trazer muitos males a saúde dos peixes.

Outra incompatibilidade está na alimentação, vejamos:

Alimentação:

No lago Malawi, o maior grupo de peixes, e também o mais difundido no hobby, são os Mbunas, estes peixes vivem áreas rochosas do lago, e se alimentam principalmente das algas que beliscam sobre as rochas, estes são classificados comoHerbívoros, e devem se abster de alimentação a base de proteínas, uma vez que seu trato digestivo é muito longo, e portanto, sensível a alimentos de demorada digestão, e tal tipo de alimentação pode leva-los à morte, por uma doença chamada Malawi Bloat(veja http://ciclideosbr.forumbrasil.net/t77-malawi-bloat).
Ainda no lago Malawi, existem os Nom-Mbunas, que são todos os outros peixes que vivem no lago e não habitam as áreas rochosas, estes são Onívoros, ou seja, necessitam de uma alimentação a base de vegetal e animal, apreciam alimentos vivos como artêmias alevinos e outros. A manutenção dos Nom- Mbunas (Haplochromis, Aulonocaras e outros) com peixes herbívoros, é totalmente desaconselhada, pois se seguirmos a dieta correta para os onívoros, iremos causar maus tratos aos herbívoros, e se fizermos o inverso, ou seja, tratar dos peixe somente com alimentação de origem vegetal, não iremos proporcionar a alimentação correta aos Nom- Mbunas/ onívoros, uma vez que sua dieta será deficiente, não lhes proporcionando a proteína e as vitaminas necessárias para uma boa saúde, e isso pode alavancar um surto de doenças no aquário, além de prejudicar muito a reprodução e o crescimento dos peixes, também impede que os mesmos mostrem toda sua coloração.
No Lago Tanganyika, a questão da alimentação não é tão relevante, uma vez que suas espécies são na maioria onívoros, se alimentando principalmente de proteína animal. Isto torna propicio uma montagem de um aquário comunitário com as espécies do lago, onde a alimentação não seria um problema, porém, ao misturar algum Mbuna, ou qualquer outro herbívoro neste aquário, estaríamos fazendo algo errado, e certamente este peixe sofreria com doenças no seu trato digestivo, assim como já foi visto acima.

O comportamento entre as espécies também são muito diferentes, e podem causar problemas:

Comportamentos:

Os peixes do lago Malawi, são considerados os mais agressivos no que se tratar de Ciclídeos Africanos, porém existem algumas exceções. No lago Tanganyika, existem alguns peixes que se colocados junto aos Mbunas (os mais agressivos do Malawi), são capazes de dominar o aquário, isso porque sua agressividade ficaria descontrolada, uma vez que os Mbunas apesar de territorialistas, não são muito de respeitar o território alheio, e vivem em disputas pelo mesmo, o que não agradaria Leleupis, Brichardis, Cylindricus e alguns outros pestinhas do Tanganyika. Ocorre que se estas espécies forem mantidas num aquário com outras espécies de seu próprio lago, esta agressividade se torna mais branda, já que possuem comportamentos similares, ou seja, cada um ocupa um território no aquário, e por lá permanece, deixando apenas o dominante passar por lá, e mesmo assim, as vezes ainda ocorrem certas desavenças. Outro prejuízo na mistura de espécies de lagos diferentes está na reprodução, uma vez que o comportamento de alguns podem prejudicar a reprodução de outros (isso pode também ocorrer sem a mistura entre lagos, mas é menos propício).

layout do aquário também pode ser um problema.

Layout:
O layout de um aquário deve ser criado a partir das espécies que o aquarista vai manter, e isto engloba, substrato, rochas, plantas, conchas, troncos, e até a iluminação.
Existem montagens onde o aquarista deseja a introdução de plantas, o que não é problema algum num aquário de Tanganyikas, mas pode ser uma grande dor de cabeça se entre eles houver um Mbuna. Estes costumam comer as plantas, fazendo com que estas morram e prejudiquem a montagem. 
A manutenção de Mbunas e plantas num aquário é possível, porém são necessárias algumas observações, mas isso é outro assunto.
Outra coisa relacionada a layout que pode causar problemas, é o posicionamento das rochas e conchas. Os ciclídeos do Malawi costumam dividir grandes pilhas de rochas no aquário, ficando cada um com um pequeno território entre elas, já os Ciclídeos do Tanganyika, costumam ocupar sozinhos uma pilha de rochas, não deixando que qualquer outro peixe se aproxime desta, o que se agrava bastante na época da reprodução. Outra coisa importante é a posição das rochas, uma vez que em geral, os peixes do Malawi incubam seus ovos na boca, necessitando apenas de um local tranquilo para o ritual de acasalamento, o que não é tão simples com a maioria dos peixes do Tanganika, que necessitam de fendas e cavernas para a colocação de seus ovos, que permanecerão entre estas rochas até que eclodam. O mesmo acontece com os conchícolas do Tanganyika, que precisam de suas conchas para se refugiarem e se reproduzirem. 

O tamanho do aquário

Aquário: 

O aquário para os Ciclídeos Africanos, além de observar os parâmetros da água, o grande volume de filtragem e alguns outros componentes, também deve observar o seu tamanho.
As vezes o aquarista possui um aquário pequeno, e pensa que ali pode colocar qualquer espécie de qualquer lago, porém, não é bem assim.
Os peixes do lago Malawi, em regra devem ser mantidos em aquários com volume superior a 200l, e com comprimento maior que 120cm. Isto tendo em vista sua agressividade.
Os peixes do Lago Tanganyika, em regra podem viver em aquários com volume até mesmo inferior a 200l, e com comprimento as vezes menores de 100cm.
Claro que aos dois exemplos acima existem exceções, e que deve sempre ser observadas.
Observando estes dois exemplos, podemos criar mentalmente algumas situações onde certamente teríamos problemas na mistura das espécies, por exemplo num aquário de 150 litros, se colocarmos Mbunas e Tanganyikas, certamente os mbunas iriam se rebelar e acabar matando os tangas, e depois disso se matando. Exemplos de casos desse tipo não faltam pelo hobby.
O tamanho de alguns dos peixes do Malawi, também são bem superiores aos pequenos Tangas, assim como podemos observar melhor ao compararmos estes com as Aulonocaras e com os gigantes Haplochromis.


Bom, creio que consegui passar de uma maneira genérica alguns dos principais motivos pelos quais não devemos misturar as espécies de lagos diferentes. 
Para ser um bom aquarista, devemos pensar primeiramente no bem estar dos peixes, e depois no nosso, então não deixe que o comodismo se sobreponha sobre a saúde e o bem estar de seus peixes, e lhes ofereça o melhor que você puder, pois com certeza estes irão te recompensar com sua beleza e saúde.

"Leia, e leia muito, e quando achar que já leu bastante, leia mais um pouco pois só está começando a aprender."


Wagner Rodrigues.